Cota zero formará “cartel” em Mato Grosso, acusa opositora ao Projeto

Durante Audiência Pública, biólogo também fez duras críticas ao pesque-e-solte: “é uma maldade pura”

Por Lielson Tiozzo

A Audiência Pública para debater a implantação da política de cota zero do pescado nos rios de Mato Grosso foi acalorada. O auditório esteve lotado de opositores ao Projeto de Lei que prevê a proibição do transporte, do abate e do comércio dos peixes por um período de cinco anos a partir de 2020. O texto já está em fase de tramitação.

Convocada pelo deputado Elizeu Nascimento (DC), a audiência serviu como um termômetro para indicar o quanto os entusiastas da medida protecionista terão que negociar. A chamada “cota zero” tem sido uma tendência em diversos estados brasileiros, seja abrangendo todos os peixes, seja se referindo a apenas uma espécie.

A presidente do Conselho de Segurança de Barão do Melgaço (MT), Suelen Soares Carbonato, entende que a medida formará um “cartel” no estado. Afinal, na visão dela, a medida deve beneficiar apenas as pousadas e os grupos que contam com clientes praticantes do pesque-e-solte.

“Eu sempre pesquei e levei um peixinho para casa. Para comer com meu filho e com o meu neto. Mas agora querem acabar com isso? O que estão fazendo? Formando um cartel em Mato Grosso. Nós não podemos deixar. O rio é nosso”, aponta.

Já o biólogo e doutor em ecologia/ictiologia, Francisco de Arruda Machado, conhecido como “Chico Peixe”, foi enfático contra a prática do pesque-e-solte. Algumas vezes se referiu à ela como “maldade pura”.

Ele defende que se for para pescar, o peixe deve ser comido. Jamais solto. “Predar é matar para comer. Algo natural. O que é muito diferente de depredar, que significa destruir”.

Para Chico Peixe, quem não quer levar o peixe para casa deve ao menos oferecer para alguém. “Temos muitas entidades interessadas que poderiam ser agraciadas”.

O biólogo afirma que o anzol, na verdade, é um grande vilão.

“Eu pesquei 505 pacus na companhia de biólogos com anzol sem farpa. Dentre eles, 51% tiveram pelo menos um dos olhos perfurados. Se eles fossem capturados novamente, perderiam totalmente a visão. E como vão fazer para enxergar a comida? É o fim da vida”, comenta.

“A fisgada é como se fosse um tiro no pulmão. A diferença é que a gente tem o Pronto Socorro para ser atendido. O peixe não. Em alguns locais de pesquisa, são inseridos antibióticos para que o peixe ferido por um anzol possa se recuperar”, afirma.

Por isso, segundo ele, o Projeto proposto pelo próprio Poder Executivo não deveria ser implantado.

“Ter um embate com um peixe dá adrenalina, dá uma gostosura no corpo, em especial se for um peixe grande. Então, vamos supor que fica 20 minutos brigando. Mais outros três fora d’água. Aí dá um beijo no peixe, porque isto é um ato de amor e estou preservando. Mas isto é uma estupidez. A cota zero é um projeto humano mesmo: porque só o homem faz isso. E nós somos péssimos gestores da natureza”, opina.

Audiência Pública lotou o auditório da Assembleia Legislativa em Cuiabá (MT) (Reprodução Facebook)