Pesque-e-solte mal feito pode comprometer piracema no Rio Paraná

Por conta do baixo nível d’água e do calor, fêmeas não conseguiram cumprir o ciclo reprodutivo

Por Lielson Tiozzo

O pesque-e-solte mal feito pode comprometer o ciclo reprodutivo dos peixes no Rio Paraná, em Corrientes (ARG). O alerta foi feito pelo Instituto de Ictiologia da Universidad Nacional del Nordeste. De acordo com um estudo feito pelos ictiólogos, devido ao baixo nível d’água e ao calor, muitas fêmeas de diversas espécies apresentaram regressão. Parte das ovas foram reabsorvidas pelo organismo e elas estariam ainda em repouso ou com as barrigas inchadas.

Diante da situação, o INICNE pediu para que a Asociación de Pescadores Deportivos del Litoral se comprometesse a divulgar uma série de medidas para o pesque-e-solte. A região de Corrientes recebe milhares de turistas brasileiros anualmente. Os principais peixes pescados são o dourado, o surubim e a piapara.

As indicações são: “o pescador deve diminuir ao mínimo tempo possível o tempo de briga com os peixes. O exemplar deve ser mantido dentro d’água no momento de tirar o anzol. As fotografias devem ser evitadas, caso seja percebido que é uma fêmea com o abdome inflado”.

“Se for preciso apoiar os peixes na embarcação, use pano umedecido com a própria água do rio. Evite que o peixe tenha contato com o chão da embarcação, a fim de evitar o choque térmico. No momento da soltura, o pescador deve assegurar que o peixe recuperou a capacidade de nadar e não está completamente esgotado, sem chance de sobreviver”, finaliza o informa do INICNE.

A pesca está liberada em Corrientes desde dezembro. A partir de então os pesquisadores foram a campo e observaram que o ciclo reprodutivo anual foi “ruim”. Isto implica que o aporte de exemplares juvenis foi baixo, o que pode comprometer os cardumes futuros.

Por outro lados, as fêmeas que conservaram suas ovas precisarão suportar por algum período até que o rio atinja um nível d’água suficiente. “Elas estão muito vulneráveis”, adverte o INICNE.

Entre os meses de janeiro e fevereiro a água do Rio Paraná alcança os níveis mais quentes, às vezes superiores aos 30ºC em zonas costeiras ou com pouca correnteza. Ao mesmo tempo, o oxigênio fica menos concentrado e também quente. As fêmeas podem ficar com 20% a mais de peso por conta das ovas e com estas condições desfavoráveis ficam muito estressadas, com pouca energia para comer e com risco de não reproduzirem.

O baixo nível d’água também fez com que a Direção de Recursos Naturais prorrogasse o período de restrição. Por meio de uma resolução, estabeleceu que desde a confluência dos rios Paraná e Paraguai, em Paso de La Pátria, até a divisa com Misiones, as terças e quartas-feiras a pesca fica liberada apenas no sistema pesque-e-solte.

O pesque-e-solte deve ser breve e bem efeito para evitar o desgaste dos peixes