Método mais barato de criação de lambari para isca viva

Instituto de Pesca desenvolve nova forma de cultivo que reduz o impacto ambiental

Por Alex Koike

Com materiais alternativos de baixo custo uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo conseguiu reduzir os custo para a criação de lambari.


O peixe é usado como isca-viva na pesca do robalo e o seu cultivo reduz a captura predatória de outros organismos do ambiente para o mesmo fim, em especial o camarão-branco (Litopenaeus schmitti).


“Na pesca do robalo é muito utilizado o camarão vivo e, em virtude da sobrepesca e do desrespeito ao ciclo de vida do animal, a captura dessa espécie nos estuários é considerada uma atividade predatória”, afirma Marcelo Barbosa Henriques, pesquisador do IP.

Henriques e sua equipe buscam introduzir o lambari como alternativa de isca-viva ao crustáceo, por se tratar de uma espécie que pode ser cultivada.


Uma ajuda para a natureza

Em um trabalho inicial foi feita a comparação entre o camarão e o lambari. “Chegamos a conclusão que o lambari cultivadoem tanques de recirculação é mais barato que o camarão”, relata.


Essa pesquisa foi publicada em um dos mais importantes periódicos internacionais que tratam do assunto, Fisheries Management and Ecology.


Isso dá um fôlego à população de camarões meio no ambiente, a criação de lambari passou a ser defendido pelo especialista como uma possibilidade de renda interessante para produtores da região.


Uma vantagem desse sistema é a do criador vender o peixe por unidade, não por quilo, o que favorece o estabelecimento na atividade dos pequenos aquicultores, principalmente no sistema alternativo de baixo custo.


“Se o produtor vender lambari por quilo, tem que trabalhar com viveiros grandes, escavados, onde são colocados centenas de milhares de lambaris. Vendendo por unidade, o produtor trabalha com tanques de recirculação de 8 a 10 mil litros, com cerca de 4 mil peixes por tanque”, pormenoriza.


Custo baixo


Tradicionalmente a piscicultura brasileira é feita no sistema semi-intensivo onde se cava um viveiro na terra com entrada e saída de água para renovação ininterrupta.
“Em virtude do aumento da preocupação com a escassez hídrica, no entanto, a aquicultura mundial está mudando para sistemas de recirculação, onde há troca zero de água”, pontua o especialista.


Esse sistema evita a entrada de patógenos e substâncias químicas, como defensivos, que podem estar presentes na água captada em rios, por exemplo.


Com o objetivo de tornar a atividade viável para produtores e comunidades de baixa renda, Henriques e sua equipe aperfeiçoaram métodos de criação já existentes.


O pesquisador elaborou um sistema de baixo custo, construído com materiais como papelão, lona plástica, madeira, bombinhas de aquário, redes de pesca usadas, baldes e tambores de plástico.


“Nosso intuito era mostrar que, numa densidade não muito elevada, a atividade é vantajosa para gerar renda para o pequeno produtor, que precisa ter um domínio total do processo para não haver mortalidade”, detalha.


Além dos benefícios ambientais, o projeto também traz retorno econômico para a região, pois movimenta toda uma cadeia produtiva (produtores, pequenos fornecedores de insumos, marinas, compradores das iscas e outros), fortalecendo a economia local.


O sistema vem sendo testado em cidades do litoral sul de São Paulo, com boa aceitação. “Um dos aquicultores ampliou o número de tanques e passou até mesmo a diversificar a produção, cultivando verduras com a água do sistema dos peixes (técnica denominada aquaponia)”, anima-se Henriques.


Com isso, o produtor sugeriu melhorias, como a colocação de coberturas sobre os tanques para diminuir a incidência direta dos raios solares, o que pode ocasionar mortandade dos peixes em regiões muito quentes.