Daniela Bitencourt, da Embrapa, faz parte de equipe de pesquisa que vem estudando essa ‘nova solução’ para o problema do plástico no meio ambiente
Imagine uma bactéria que, ao invés de fazer mal, possa entregar medicamentos diretamente nas células afetadas por doenças como o câncer ou “comer” plástico nos oceanos, ajudando a resolver problemas ambientais. No Brasil, uma pesquisa da Embrapa deu um grande passo nesse sentido.
Com a participação da pesquisadora Daniela Bittencourt, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a pesquisa trabalhou no desenvolvimento de estudos com a JCVI-syn3.A, uma célula com um genoma sintético mínimo e manipulável em laboratório. Essa célula, derivada da JCVI-syn3.0, possui genes adicionais para facilitar seu uso em pesquisas.
“É possível usar o conhecimento da biologia a nosso favor. Ou seja: pegar todos os mecanismos biológicos que conhecemos e sintetizar as partes genéticas responsáveis por eles para construir um organismo com uma função específica. Daí o termo biologia sintética. No futuro, esse conhecimento também pode ser usado no desenvolvimento de uma vacina, ou de uma célula que percorra o organismo humano carreando genes de interesse para combater um câncer”, afirmou Daniela, à Embrapa.
O trabalho envolve a criação de células mínimas, que possuem apenas o essencial para sobreviver e se multiplicar em um ambiente controlado. As células JCVI-syn são baseadas na bactéria Mycoplasma mycoides, que tem um genoma pequeno e foi geneticamente modificada para ser menos patogênica.
Os cientistas conseguiram sintetizar todo o genoma dessa bactéria em laboratório, criando a primeira célula com um genoma 100% sintético. A pesquisa visa entender as funções celulares básicas e usar esse conhecimento para criar microrganismos com funções específicas, como melhorar a agricultura ou servir de biossensores.
Em âmbito nacional, as pesquisas estão sendo conduzidas pela Embrapa em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Sintética (INCT BioSyn) e o J. Craig Venter Institute. Estão sendo realizados testes em cabras para verificar a resposta a essas células e em neutrófilos humanos para avaliar sua interação com o sistema imunológico. Até agora, os resultados indicam que essas células são inertes ao sistema imunológico, o que é promissor para o desenvolvimento de novos tratamentos médicos.
A pesquisa busca transformar essas células em ferramentas com múltiplas funções, como desenvolver vacinas ou entregar medicamentos no organismo humano.
Acompanhe a revista Pesca & Companhia nas redes sociais!