Satélite natural da terra pode orientar as melhores épocas para a pesca
Por Lielson Tiozzo
A observação é um detalhe importante na pesca e pode valer mais do que qualquer equipamento de primeira linha. Para capturar os grandes exemplares, o pescador costuma usar algumas técnicas e conhecimentos adquiridos com o tempo. Sendo que um dos melhores exemplos para este último caso é a influência da lua na pesca.
A uma distância aproximada de 340 mil quilômetros da terra, a lua é frequentemente observada pelos amantes da pesca. Não existe ainda uma comprovação científica sobre a influência direta deste satélite natural nas pescarias. Na realidade, ela tem efeito apenas nas marés. Estas são geradas pela ação da força da gravidade existentes entre a terra, a lua e o sol.
Essa força exerce atração sobre a superfície terrestre e como as águas são mais “maleáveis” que a terra, elas são “puxadas” em direção à lua. Isto acaba criando as marés. Conforme ocorre a mudança de fases, o nível do mar se altera.
Os pescadores, no entanto, não costumam dar atenção para o lado científico do assunto. Mas as “teorias” desenvolvidas por eles têm credibilidade, segundo o professor Roberto Costa, do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP).
“Apesar do conhecimento empírico, os pescadores são fontes confiáveis, uma vez que muitos pescam há um bom tempo e sabem praticamente tudo sobre os peixes desejados”, ressalta Costa.
De olho na lua
Para aproveitar a interferência deste corpo celeste, um dos segredos é estar atento às marés. Para isso, os pescadores contam com a ajuda da “tábua de maré”. Esta ferramenta é capaz de mostrar as amplitudes de acordo com as horas de um dia em um determinado local.
Segundo o pescador Nelson Nakamura, quanto mais próximo for o local de pesca da linha do Equador maior será a amplitude das marés. Elas podem chegar a oito metros no Maranhão e no Pará.
“Mas não é nada exato. No litoral de São Paulo é uma situação, no Paraná e no Rio de Janeiro, por exemplo, é outra”, relata Nakamura.
Pesca em águas salobras
Uma das espécies mais comentadas quando se fala na relação entre lua e marés é o robalo. Isso porque o nível das águas no mangues, local onde a espécie habita, varia de acordo com as amplitudes do dia.
“Em mangues não dá para pescar quando você quer, tem que ser quando a maré permitir. É preciso conhecer o local e consultar a tábua de maré para saber estabelecer quais os materiais vão ser usados. E quais são os lugares mais interessantes para achar o peixe de acordo com a situação”, recomenda Nakamura.
As dicas são de quem só sai de casa para essa pescaria após uma consulta à fase da Lua no dia correspondente, às condições do tempo e à tábua de maré. Por este motivo é preciso fazer previsões com antecedência, para aumentar a probabilidade de capturar o peixe desejado.
Uma das estratégias é saber o dia exato da Lua de quarto (crescente ou minguante). Segundo Nakamura, no dia da mudança de Lua é quando a água está mais “parada”. Um ou dois dias antes, o movimento das águas será maior, e conforme for se aproximando do dia certo, vai diminuindo. Passados um ou dois dias, do dia determinado da Lua, o fluxo volta ao normal e vai aumentando aos poucos.
Já em Luas grandes (nova e cheia) existe uma variação maior da amplitude das marés. Toda maré que enche muito, depois acaba “vazando” muito. É normal a água invadir os mangues quando há enchente. Nessa hora os peixes aproveitam para entrar pelos corixos à procura de alimentos, dificultando a captura com artificiais.
Outro problema ocasionado é o aumento de turbidez da água. Isso acontece na volta da água que invadiu o mangue, que acaba trazendo sedimentos do local e também, devido ao constante movimento da água, suspende pequenas partículas do fundo.
Tábua pode “enganar”
Apesar de ser uma ferramenta recomendada por todos os pescadores, a tábua de maré nem sempre é totalmente confiável. De uma hora para outra tudo pode ser alterado, assim como qualquer previsão. Isso acontece em função das mudanças climáticas, dos ventos e também das estações do ano.
Em uma situação normal, durante o dia o vento sopra do mar para a terra. À noite é o contrário. No entanto, quando o vento vem do Sul, o mar fica mais revolto e a água é empurrada para a terra. Neste caso, a maré pode ser maior do que a prevista pela tábua, o que geralmente ocorre no inverno e em entradas de frente frias.
“Quando isso acontece, o pescador tem que mudar o ponto de pesca. A estratégia para uma pesca feita na maré com amplitude 1,10 metros é totalmente diferente de uma feita para 1,20 metros”, explica Nakamura.
“Por isso que hoje vendem muitos motores para barco com 50, 100, 200 hp, já prevendo que os pecadores precisam se deslocar para longas distâncias em busca de um bom ponto de pesca”, complementa.
Já no verão, a amplitude da maré é menor. “Às vezes, quando o vento sopra para o mar, a água costuma ficar calma, sem ondas, e a amplitude chega a um metro, diferente da que pode ser previsto na tábua”, conta o pescador.
Por isso é até possível fazer uma pescaria de artificiais em luas grandes, porque há momentos em que as condições favorecem.
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