Carretilha ou molinete na pesca de praia?

Uma pergunta que muitos pescadores que praticam a modalidade se fazem, até mesmo os mais experientes!

Texto: Vladimir Ferreira/Imagens: Márcia Cassiano, Eduardo Chedid, Eliseu Cherene e João Lessa

A pesca de praia é um tema de difícil abordagem, que certamente não nos levará a uma verdade absoluta. Até hoje, eu mesmo, após aproximadamente 35 anos praticando a modalidade, continuo fazendo esta pergunta: carretilha ou molinete?

Procurando ampliar meus conhecimentos e enriquecer a abordagem, consultei grandes pescadores que utilizam ambos os equipamentos e também um profissional competente que trabalha fazendo manutenção, tunagem e customização de ambos.

Para facilitar o entendimento e fazer um detalhamento mais técnico resolvi dividir a explanação em tópicos, nos quais faço os comparativos.

Cada equipamento tem seu benefício para os praticantes da modalidade

Mecânica

Os molinetes trabalham com a transferência da força que é aplicada na manivela para a coroa, que por sua vez gira o pinhão. Este movimenta simultaneamente o sistema de recolhimento e a distribuição uniforme da linha no carretel (sobe e desce).

Analisando tudo isso, podemos observar uma grande quantidade de engrenagens trabalhando em vários eixos. Isto certamente irá exigir bastante do conjunto, podendo provocar um desgaste excessivo e prematuro das peças.

Já as carretilhas trabalham num mesmo eixo, que movimenta manivela, coroa, pinhão, carretel e devaneador. Isto faz que haja menos transferência de força, reduzindo consequentemente o desgaste de sua máquina, principalmente das engrenagens e dos rolamentos.

Para os iniciantes

A influência na escolha dos equipamentos pode começar no próprio balcão de uma loja, ou até em discussões com outros pescadores. Existem mitos e verdades quando colhemos informações sobre este importante quesito.

Os principais argumentos para que um novato não utilize a carretilha são as famosas cabeleiras. Portanto, seria mais fácil aprender a arremessar utilizando um molinete. Isto vai depender do nível de interesse, entendimento, persistência e até mesmo da paciência.

Já vi muitos pescadores utilizando molinete de forma incorreta: arremessando a chumbada como se estivesse utilizando uma linha de mão, destravado, com alça fechada ou fazendo a manivela girar ao contrário.

Algo que também pode influenciar na escolha é a região. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, as referências serão de pescadores que utilizam carretilhas, já em São Paulo o inverso.

Desempenho nos arremessos

Certamente este é outro ponto bastante polêmico. Provavelmente, num primeiro instante, o molinete irá alcançar distâncias maiores. Mas existem diversos fatores que poderão influenciar nos arremessos, tais como, comprimento do caniço, quantidade e diâmetro da linha e peso da chumbada.

Na prática, para pescadores mais experientes e adaptados a cada um dos equipamentos, o desempenho poderá ser parecido. O grande segredo será investir em treino e a montagem de um conjunto equilibrado.

Na pesca de praia, para arremessos de curta e média de distância, a recomendação é usar caniços com medidas acima dos três metros: 3,90 até 4,50 m, quando o objetivo for cobrir longas distâncias.

Para arremessos curtos e médios podemos utilizar molinetes menores e carretilhas de perfil baixo. Já para os mais longos, os molinetes devem ser maiores, de preferência os chamados long casting e carretilhas de perfil alto.

No caso de uso de carretilhas não é recomendada a utilização de linhas de multifilamento muito finas. Elas podem ocasionar cabeleiras e rupturas, mais especificamente pelos sistemas de rebobinamento e regulagem dos controles de velocidade.

Outro aspecto que deve ser destacado é a saída de linha. No caso dos molinetes, elas saem em espirais, ao se desenrolar do carretel, já que este é fixo. Já nas carretilhas elas saem mais retas, exatamente porque o carretel gira acompanhando a saída da linha.

Para os pescadores mais experientes, o desempenho deve ser bem parecido

Manutenção

Na pesca de praia ambos os equipamentos exigem mais cuidados. Durante e após cada pescaria. Também devemos fazer manutenção preventiva com mais frequência. Se possível, sempre feita por um especialista. Ele também irá fazer uma verificação geral, utilizar ferramentas, graxas e óleos apropriados.

No caso de reparos, as peças de reposição para carretilhas são encontradas com mais facilidade. Alguns modelos e marcas estão no mercado há muitos anos e também existem algumas peças, como os rolamentos, que seguem alguns padrões de medida.

O ideal é sempre procurar técnicos para fazer a manutenção do equipamento

Preço

No caso das carretilhas podemos encontrar alguns produtos de boa qualidade, com custos razoáveis, que irão atender as necessidades até mesmo de pescadores mais exigentes. Isto não ocorre com bons molinetes, eles costumam ser mais caros.

Porém, a disponibilidade e a variedade de equipamentos, principalmente em algumas regiões do nosso vasto país, poderão não ser as ideais. Com o advento da mídia, internet e das redes sociais, este trabalho facilitou muito a nossa vida.

Peso

Não vou levar em consideração neste quesito. Os modelos tops, já que estes podem ter o seu peso bem reduzido, mas os preços podem ser bem salgados.

Este é um quesito onde as carretilhas levam bastante vantagem. Uma carretilha de perfil baixo hoje em dia pode pesar menos de 200 g. Uma de perfil alto, grande, pesa aproximadamente 300 g. No entanto, um molinete médio pesa em torno de 350 g, enquanto que um molinete long casting tem acima de 500 g.

As carretilhas, mesmo as de perfil alto, costumam ser mais leves que os molinetes

Comparativos ergonômicos e ergométricos

Aqui podemos avaliar a questão do conforto e do esforço físico quando utilizamos cada um deles.

Na pesca de curta distância não existe muita diferença, já que o esforço acaba sendo muito menor. Mas nas longas distâncias as carretilhas podem se tornar um problema sério, por conta do movimento na hora do recolhimento, provocado pela distância da manivela até o eixo central que é bem curto. Isso exige mais esforço e desconforto.

Já nos molinetes grandes, a manivela pode ter aproximadamente 90 cm. Neles utilizamos um conjunto maior de músculos e articulações. Com as carretilhas, o movimento de punho é muito grande, podendo até ocasionar problemas, pelos movimentos repetitivos e concentrados em uma determinada parte do corpo.

Outro problema sério que encontramos aqui é a empunhadura do caniço. Com o molinete ela se torna mais confortável, presa entre os dedos. Ao contrário dos equipados com carretilha, nos quais o equipamento fica apoiado na palma da mão e o dedão na parte superior.

Algo que minimiza bastante o esforço físico e o desgaste das partes mecânicas dos conjuntos equipados com ambos é fazer o recolhimento abaixando a ponta do caniço e, em seguida, levantar levemente a sua ponta, com movimentos de aproximada 90 graus de amplitude.

O molinete tem vantagem na questão ergonômica na pesca de praia

Caniços

Talvez aqui esteja um grande problema para quem escolhe carretilhas na pesca de praia: não encontramos no mercado caniços montados especificamente para elas.

O que difere nos caniços montados para molinetes e carretilhas? Sem dúvida alguma está na quantidade, posição e distribuição dos passadores.

Os caniços possuem uma curvatura fixa, a qual chamamos de espinha. Para se certificar disso, pegue uma ponta, apoie em uma superfície sólida, na posição vertical. Com a palma da mão force para baixo. Poderemos observar que ela sempre se vergará no mesmo sentido.

Na montagem para molinetes os passadores são fixados na parte interna da espinha, já que estes são utilizados para baixo. Isto também irá evitar a torção, o que poderá levar até mesmo a sua quebra. Já a montagem para carretilha será feita do lado inverso.

Já a distribuição e a quantidade de passadores também são feitas de forma bem diferente. Para molinetes utilizamos uma quantidade menor e com um espaçamento um pouco menor. Na hora que fazemos o recolhimento, a ponta sempre se verga, principalmente durante as capturas. Isto provoca o afastamento da linha em relação ao caniço (blank).

Nas carretilhas ocorre exatamente o contrário. Como os passadores são dispostos na parte de cima, ao vergar a ponta, a linha irá ficar cada vez mais próxima, chegando até mesmo a encostar. Por isto, a montagem irá exigir uma quantidade maior e o espaçamento menor dos passadores. Assim iremos evitar este contato, que também poderá ocorrer na hora dos arremessos.