O que saber para pescar trairão

Revelamos como a espécie se comporta e o que fazer para fisgá-la em cada situação

Por Lester Scalon

Como pescar trairão? Entre os grandes peixes esportivos que são capturados com iscas artificiais e proporcionam muita emoção na pesca estão os trairões. 

Suas explosões espetaculares em plugs de superfície espalham, com incrível força, adrenalina na corrente sanguínea do mais frio dos pescadores. Impossível não se apaixonar pelos trairão e suas peripécias quando são fisgados.

Quando embarcarmos um trairão, não é somente o peixe que foi fisgado, mas também o pescador também. Essa espécie usa de suas artimanhas e consegue escapar do pescador e se livrar dos anzóis. 

Em contrapartida, o pescador, quando “fisgado”, não tem como escapar. As incríveis façanhas e malabarismos desses gigantes da pesca esportiva os tornam inesquecíveis para aqueles que tiveram o privilégio de travar uma batalha com um grande exemplar.

Muitas vezes confundido com as traíras, os traírões pertencem a uma espécie da mesma família. As traíras são classificadas em mais de dez espécies, sendo a mais popular a traíra comum (Hoplias malabaricus) que habita praticamente todo o território nacional, de norte a sul do País, e seu peso raramente ultrapassa os 5 kg.

Já os traírões  subdividem-se em duas espécies; o trairão-da-amazônia (Hoplias macrophthalmus), protagonista de nossa matéria, que é endêmico da bacia amazônica e pode ultrapassar os 20 kg de peso. 

Espécie essa que foi a mais introduzida em nossos rios e lagos. A outra espécie de trairão (Hoplias lacerdae) habita a bacia do Rio Paraiba do Sul e pode ultrapassar os 15 kg, e também foi introduzida em vários rios brasileiros.

O autor e um gigantesco exemplar capturado no famoso Rio Suiá-Miçu

Os trairões

Imprevisíveis e temperamentais são alguns adjetivos que podem seu usados para descrever o variado comportamento dos trairões-da-amazônia. Os peixes chegam a atingir 1m de comprimento, possuem corpo fusiforme com uma grande cauda e nadadeiras bem desenvolvidas.

A espécie habita praticamente todos os locais do rio, com predileção por águas mais rasas. Gostam de ficar nos espraiados, galhadas, escondidos nas sombras de galhos e troncos, nas saliências rochosas, tanto em águas paradas e corredeiras como em locais com vegetação aquática, atolados na lama para se camuflarem. Essas características definem o peixe como ardiloso e traiçoeiro.

Sua estratégia de caça é o fator surpresa, pois sua grande cauda e nadadeiras foram adaptadas para ataques rápidos e precisos. A perseguição da presa dura pouco e é abandonada com poucos metros, diferente de outros peixes como dourados e tucunarés que, além de perseguir suas presas por mais tempo, ainda usam a estratégia de caça em cardume. 

Apesar de também viver com outros peixes da mesma espécie, o ataque é sempre realizado de surpresa, mesmo quando mais de um ataca a isca. Isso ocorre porque a isca passou no campo de ataque de mais de um peixe. Esse campo de ataque, no caso dos trairões, não é muito grande. 

Na maioria das vezes é de um metro e raramente passa de dois metros de distância, pois eles sabem perfeitamente de sua capacidade e não gostam de desperdiçar energias com ataques infrutíferos. A perseguição atrás da isca raramente ultrapassa cinco metros de distância, e, terminada, voltam para o local de origem para tocaiar novamente. 

Contudo, a espécie é muito ruim de pontaria com iscas artificiais, pois os trairões costumam errar demais os ataques. Já com peixes na natureza não sabemos, mas eles vêm com tanta raiva no encalço das artificiais que proporcionam ataques espetaculares e, muitas vezes, acrobáticos ou espalhafatosos, que além de adrenalina nos fazem dar risadas do desajeitamento deles. 

Em todos os locais muitas vezes os ataques são imediatos, mas quase sempre é preciso insistir um pouco, de preferência com iscas de superfície que façam bastante barulho. O som de algo se debatendo na superfície é quase irresistível se eles estiverem por perto.

Por isso, vários arremessos têm que ser feitos no local, já que eles são atraídos pelo barulho na água. Muitas vezes quando estamos pescando tucunarés, e quando fisgamos o peixe, os trairões aparecem atraídos pelo movimento do animal capturado.

O que usar?

Só pesco trairões com isca de meia-água quando não querem atacar na superfície. Mas, para os adeptos de iscas tradicionais de meia-água, o ideal são iscas de 10 a 14 cm com garateias reforçadas, pois os “bichos” são ignorantes. Eu costumo não usar empate de aço com multi, pois pesco mais administrando a “briga”. Para quem gosta de medir força é aconselhável usar um pequeno empate de aço.

É na superfície que a esportividade do trairão se destaca. O show já começa com a explosão do ataque e é seguido pelos saltos e acrobacias espetaculares. Nesta modalidade, as iscas zaras são imbatíveis. No mercado ainda existem várias marcas e vários modelos para o pescador usar o que preferir. 

Quanto à coloração, sempre percebi que os trairões normalmente são atraídos muito mais pelo trabalho da isca do que por sua cor, já que eles atacam qualquer tom. Existem exceções, notadas quando os trairões mordem somente uma cor. Quanto a isso, essa situação nunca se deu comigo. Esses peixes atacam tudo que faz barulho e se debate na água. Então o pescador pode usar e abusar das iscas de superfície em sua pesca.

Quanto às varas, o ideal é utilizar as de 25 lb, de 5′ 6″ para uma pesca segura. Como gosto de administrar a briga, gosto de usar varas de 20 lb, mas para quem gosta de medir força é pouco. O “bicho” é ignorante e forte, muitas vezes a pancada na isca é tão violenta que a linha é arrebentada e não cortada somente pela chicotada do ataque. Na verdade, é muita energia do ataque desprendida num espaço de tempo curtíssimo, provocando o rompimento da linha.

Os trairões proporcionam boas brigas, sobretudo porque são acrobáticos como os dourados

Espraiados

Os trairões gostam de ficar nos espraiados, mas pela manhã costumam se mostrar preguiçosos. Costumo dizer que os trairões estão tomando “banho de sol”, pois são peixes que têm na noite o período de maior atividade para se alimentar. 

Pela manhã, período do dia em que a água está mais fria, diminuindo o seu metabolismo, são necessários vários arremessos para “acordar” o preguiçoso de seu “banho de sol”. Quando o dia vai esquentando e, no período da tarde com o sol a pino e temperatura de água mais quente, costumam ficar do lado do barranco que tem sombra no espraiado, usando-a como camuflagem.

Muitas vezes ficam meio enterrados e a sujeira levantada acaba sendo depositada nas suas costas, tornando a  visualização do peixe bastante difícil. Quando nossa isca passa, o ataque vem espetacular. 

Galhadas

São sempre um ponto tradicional de pesca de trairões, pois é nesses locais que os peixes se escondem para sorrateiramente atacarem suas presas. A galhada também é o refugio de pequenos peixes que se refugiam de outros predadores, tornando-se um ponto bastante estratégico de caça para os trairões. Se as galhadas se situarem na boca de uma baia ou em um córrego, pode contar que os peixes vão estar lá escondidos.

Esses locais são estratégicos na busca de alimento, pois é ali que os pequenos peixes se alimentam e se escondem dos predadores. Os trairões vão se aproximando camuflados pelas sombra e pelos galhos, tornando-se quase invisíveis para os pequenos peixes. 

Galhadas no fundo de baia também são locais certeiros para pescá-los. As pequenas entradas que quase todo rio tem são as reentrâncias nas margens, locais estes que nunca devem ser desprezados, principalmente se tiverem uma galhadinha submersa.

Pedreiras e corredeiras

Como são peixes oportunistas nas pedreiras e corredeiras, os trairões ficam escondidos nas partes mais rasas, nas locas e reentrâncias das pedras. E aí estão quando aparece a oportunidade do ataque, e este vem com rapidez e violência. 

Nestes casos, é sempre bom estar com um empate de aço, pois eles fatalmente vão tentar voltar para a loca ou reentrância, e a linha pode ser rompida na pedra.  Algumas vezes, por estar distante do raio de ação e com o barulho chegando aos poucos, o pescador deve insistir em vários arremessos nesses locais.

Vegetação submersa

Se existe um local que os trairões adoram, por serem praticamente invisíveis, são aqueles comis com vegetação submersa. Eles se ajeitam no meio da vegetação, só com os olhos descobertos, e surgem do nada para atacar nossas iscas. Nesses locais, o pescador precisa fazer vários arremessos, já que o peixe pode estar mais embrenhado na vegetação. 

Um pouco mais de barulho pode ser fundamental para despertar o ataque. Quando a água esta limpa, o pescador tem que ficar ligado no visual, pois é comum ver os peixes se deslocando de um local para outro denunciando sua presença. Fique atento, porque, quando fisgado, fatalmente o trairão vai tentar se embrenhar na vegetação, e a chance de escapar é muito grande. 

Que você está esperando? Ajeite sua tralha e vá conhecer uma das pescarias mais emocionantes que a pesca esportiva pode oferecer a você, que consiste em desafiar os grandes trairões em seu habitat natural.