Observar o período de enchentes de rios e reservatórios ajuda a estabelecer o melhor tipo de isca e se compensa fazer a pescaria
Por Lielson Tiozzo
O nível d´água de rios e reservatórios é um detalhe que influencia no saldo daquela pescaria planejada há muito tempo. Muitas vezes os pescadores separam com carinho todos os itens da tralha, mas esquecem que a observação dos fenômenos naturais, capazes de contornar a expectativa humana, é a principal ferramenta para o sucesso da busca dos maiores exemplares.
Se a isca varia de acordo com a espécie procurada, um dos fatores determinantes para escolhê-la é o nível d´água do destino de pesca. Esse índice é relativo e depende das condições climáticas de cada região.
Para a maioria dos pescadores, a época das cheias significa uma péssima pescaria. Se o alvo for tucunarés, a afirmação pode ser considerada como certa. Agora, se a intenção for os grandes peixes de couro ou até mesmo alguns peixes de escamas, como as cachorras, bicudas, apapás, tambaquis e caranhas, a frase está errada.
As melhores pescarias dos gigantes peixes de couro são realizadas quando os rios enchem, porque existem alguns fatores que contribuem para uma pescaria fácil e farta de pirararas, jaús, cacharas, capararis, douradas, jundiás, piraíbas, entre outras. É nesse período que as espécies começam a se reunir em cardumes, já que logo chegará a época da desova (piracema). Nesta fase pré-desova o peixe tem a necessidade de comer tudo o que possa encontrar pela frente, na tentativa de acumular energia em forma de gordura, pois na semana em que acontece a cópula o peixe não se alimenta.
Os bagrões ainda enfrentam um grande problema, que é a dificuldade de encontrar alimento, uma vez que os principais forrageiros, base alimentar dos predadores, estão praticamente inacessíveis por se acharem dentro da mata alagada (igapó). Os exemplares que conseguem entrar nesses lugares ficam com a locomoção limitada, o que acaba atrapalhando sua caçada à presa. Outro fator que facilita a pescaria é a quase ausência das famosas piranhas, que dá à isca do pescador mais tempo para ser achada por um peixe de couro.
Outro lado da moeda
No caso citado, as iscas naturais são recomendadas porque os peixes predadores são atraídos pelo seu cheiro.
Agora, se a intenção é usar as artificiais no período de chuvas constantes, a água dos rios pode até invadir as margens, o que pode dificultar a procura de certas espécies, especialmente quando o pescador usa iscas de superfície.
Por esse motivo, o pescador deve saber que precisa ficar atento às estruturas e partir para iscas de fundo como os jigs. Outra possibilidade seria o uso de iscas que produzem bastante vibração e barulho, como as de hélices, com a intenção de atrair o peixe para fora da mata alagada.
Nos reservatórios, “o sobe e desce das águas é uma constante, devido à produção ou não de energia elétrica. Então as espécies vão se adaptando e não sentem muito essa influência”, opina Juninho, consultor de Pesca & Companhia.
Mesmo assim, o pescador não pode desconsiderar o nível d´água nessas situações. Quando o reservatório está muito cheio, os cardumes podem variar de comportamento, ora se concentrando no fundo, ora na superfície. A mudança do tipo de isca, portanto, deve ser constante.
Entretanto, nos períodos de longa estiagem as espécies costumam migrar para locais onde consigam sobreviver, com comida farta. Em tempos de vazante, o melhor que o pescador pode fazer é esperar que chegue um momento mais adequado.
Como saber o nível d´água?
Não se pode negar que a pesquisa do nível d´água é um passo importante para o sucesso da pescaria. Mas como saber as condições do rio onde a jornada está programada, sem sair de casa?
O pescador pode ficar atento a dois portais que disponibilizam os níveis d´água das principais bacias do Brasil: Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS) – www.ons.com.br – e Serviço Geológico do Brasil (CPRM) – www.cprm.gov.br.
Na página do ONS, o pescador deve procurar “nível dos reservatórios” na barra de rolagem que se encontra no centro dela. Basta um clique para outra página ser aberta com o título “volume útil dos principais reservatórios”. O internauta pode escolher o reservatório, o período e até mesmo fazer comparações com os níveis de vários anos. Para verificar o resultado, outro clique em “consultar”.
Os resultados do ONS são apresentados em forma de planilhas. Se o pescador quiser, existe uma versão disponível para download em arquivo do programa Excel. Para melhor compreensão, o internauta deve conhecer os índices ideais do reservatório acessado.
Já o site do CPRM é indicado para quem pretende pescar nas bacias Amazônica e do Pantanal Matogrossense. Para acessar os relatórios desse portal, o internauta deve clicar em “recursos hídricos” e depois em “recursos hídricos superficiais”. Uma nova página será aberta com diversas explicações sobre os períodos de enchente e de vazante.
Logo em seguida é feita a escolha de uma das bacias possíveis de consulta. Se a opção for pelo link “Manaus”, o internauta é direcionado para outra página, na qual ele deve acessar “monitoramento hidrológico das bacias dos rios Negro, Solimões e Madeira”. Nessa tela aparecerão diversos boletins com dados sempre atualizados sobre os níveis d´água.
Embora seja um freqüentador usuário desses sites, Philodemos ainda não dispensa a consulta verbal com quem já está no rio de sua futura pescaria. “Costumo acessar o CPRM e o NOS com bastante freqüência. Mas recomendo também fazer uma ligação para o guia ou pousada, se for o caso, para saber melhor como está a situação”, revela o pescador.
Feitas essas consultas sobre o nível d´água, o pescador pode ter mais tranqüilidade. A chance de ele acertar a melhor data da pescaria aumenta, o que significa o investimento preciso no melhor equipamento e na escolha da melhor isca. Afinal, quem não quer evitar prejuízos e aborrecimentos na atividade mais indicada para acabar com o stress?