Pescaria de trairão no fly une sutileza e brutalidade

Espécie com jeito e comportamento durão não costuma resistir ao trabalho bem feito das moscas

Por Gustavo dos Reis Filho, Gugu

Os trairões são peixes pesadões e lentos, por isso preferem ficar camuflados e quietos à espreita das suas eventuais presas ao contrário dos outros citados anteriormente que estão sempre em movimento à procura delas. Eu, por exemplo, nunca tive a oportunidade de presenciar trairões cercando e atacando piabinhas na rasura como faz um cardume de tucunarés ou atacando peixes na superfície ao estilo de bicudas e cachorras.

Sem dúvida, pescá-los com poppers é super excitante, em função dos ataques espetaculares típicos desse nosso artista, o detalhe é que por mais preciso que seja o arremesso e por melhor que seja o trabalho da isca ficamos sempre na dependência dos trairões decidirem sair da sua habitual letargia para atacá-la, o que nem sempre acontece, principalmente quanto maior for a distância que a isca passe por eles.

Se a isca passar bem perto do seu raio de ação, a coisa muda radicalmente e o ataque é praticamente certo. E é isso o que sempre acontece quando conseguimos fazer com que uma isca artificial ou mosca passe bem próxima, de preferência lentamente a menos de meio metro deles. Para essa situação, em se tratando de iscas artificiais, nada pode compara a um streamer.

A captura do trairão amazônico é uma das mais fascinantes nos rios brasileiros

Equipamento e a técnica

Os trairões amazônicos atingem tamanhos consideráveis e pela experiência que tenho, posso afirmar que com streamers você tem grandes chances de capturar alguns dos maiores, vale dizer que estamos falando de peixes entre 8 e 12 kg. Considerando que um grande trairão, quando bem ferrado, deixa aquele “jeitão” preguiçoso e vira um verdadeiro demônio, é obrigatório optar por varas e linhas no mínimo de número 8.

Essas varas mais pesadas, também são as indicadas porque os streamers, preferivelmente com proteção contra enrosco, têm que ser grandes e volumosos, atados em anzóis de números 1/0 a 3/0 e, o complicador final dos arremessos, bem lastreados. Explicando “tintim por tintim”: um trairão de porte dificilmente vai mostrar interesse por um petisco muito pequeno para a sua refeição porque o seu próprio instinto avisa que o dispêndio de calorias gastas para ir atrás dele não compensa. Por isso os streamers grandes têm maiores chances de sucesso.

Streamers sem lastro dificilmente chegam tão próximo quanto necessário dos trairões que estiverem a mais de um metro de profundidade, mesmo em situações de águas lentas. Já testei linhas “sinking tip” com streamers sem lastro e acabei chegando à conclusão de que as linhas “floating” com streamers lastreados, nessas situações de águas quase paradas, permitem um trabalho perfeito da isca, além de serem muito mais prazerosas de arremessar.

Os líderes entre 1,5 e 2 metros podem ser confeccionados com náilon ou fluorcarbono na proporção de 2/3 de 0,60 mm ou 0,70 mm e 1/3 de 0,50 ou 0,40 mm e com cerca de 20 cm de empate de aço encapado (ou similar) com no mínimo 30 lb de resistência.

A técnica é arremessar, aguardar o streamer afundar e então fazer com que ele trabalhe lentamente “lambendo” o fundo, que é local onde a maioria dos trairões vai estar. Como nesse trajeto não irão faltar pedras, troncos e outros tipos de problemas para pontas de anzóis o mais prudente é usar sempre aqueles com protetores de enrosco (weedless).

Na maioria das vezes, essa pescaria pode ser feita no visual em função da pouca profundidade e condições de água limpa. Você vai poder ver o trairão acompanhar o seu streamer e na maioria das vezes abocanhá-lo até com certa delicadeza (se é que podemos atribuir esse termo a qualquer atitude de um trairão) e quando o streamer estiver na boca do nosso amigo, faca um esforço sobre humano para manter a calma, “bambeie” a linha e espere ele virar para voltar de onde veio, só então ferre dando um puxão na linha sem levantar a ponta da vara. Se você não conseguir atingir esse momento de calma e concentração, tentando fisgar assim que o streamer é abocanhado, vai ter o desprazer de ver ele reaparecer de dentro da boca do peixe na maioria das vezes.

Quando a situação não permitir o visual, como por exemplo em água turva ou locais mais profundos, se você sentir um leve toque durante o recolhimento do streamer, libere imediatamente a linha, deixe o trairão carregá-la um pouco e só então de a fisgada.

A pescaria de trairões no fly envolve uma série de técnicas e de observações