Modelos também conhecidos como circle hooks possuem capacidade de fisgar bastante eficiente; saiba os detalhes para poder aproveitá-los
Por Marcos Malucelli
Os anzóis circulares diferem dos usuais (tipo J) porque apresentam um design modificado. A ponta do anzol, ao invés de estar paralela à haste do mesmo, é curvada em direção ao centro, o que lhe confere um formato circular.
Os anzóis circulares são usados por pescadores comerciais há décadas, por conta de sua habilidade para fisgar com eficiência peixes em aparelhos de pesca de espera, como espinhéis e pargueiras de deriva.
O princípio mecânico por trás do anzol circular é simples: depois de ser engolido pelo exemplar, o pescador não precisa fisgar o peixe. Basta aplicar apenas uma pressão constante à linha, que automaticamente desliza para fora do estômago do peixe. O design original deste anzol faz com que o mesmo se desloque para um ponto de maior resistência e se encaixe no maxilar ou no canto da boca do peixe.
O formato circular e a ponta curvada para dentro impedem que crave na cavidade estomacal ou na garganta do pescado, possibilitando solturas mais eficientes e maior taxa de sobrevivência dos peixes liberados (no caso do pesque-e-solte).
Pesquisas
O Sea Grant é uma organização que trabalha em parceria com o governo norte-americano e a população residente nas regiões litorâneas e ribeirinhas dos EUA, empenhando-se na conciliação entre os interesses da população, os centros de pesquisas de recursos naturais e a indústria.
Busca ajudar os norte-americanos a compreender e usar de forma sustentável os recursos naturais hídricos do país, dentro de uma relação coerente entre crescimento econômico e preservação dos ecossistemas naturais em longo prazo.
A organização atua em todos os estados daquele país e mantém programas em cerca de 200 universidades, influenciando e orientando de forma ecologicamente responsável a vida de milhões de cidadãos.
À procura de formas economicamente viáveis de reduzir os ferimentos e a mortalidade das capturas acidentais (tecnicamente chamadas de by catch) na pesca comercial e também na prática do pesque-e-solte na pesca esportiva, o Sea Grant elaborou um estudo comparativo (03-FEG-10) entre a eficiência dos anzóis circulares e os comuns (tipo J), no estado da Carolina do Norte.
A pesquisa foi baseada em uma vertente de pesca que visa a captura de espécies de grande valor comercial, como alguns tipos de garoupas e badejos, por exemplo.
Vale lembrar que, em função da grande importância dos tubarões como um dos reguladores da saúde dos ecossistemas marinhos, a pesca comercial dessas espécies é quase que completamente proibida nos EUA.
Em nome da vida
O projeto demonstrou que o uso dos anzóis circulares diminuiu significativamente as fisgadas mortais nas garoupas e badejos. Uma vez que espécies abaixo do tamanho legal de captura passaram a ser ferradas quase que exclusivamente no maxilar ou no canto da boca, o numero de fisgadas mortais (na cavidade estomacal, na garganta ou nas guelras) dos peixes diminuiu consideravelmente, aumentando muito a relação de sobrevivência pós-solturas.
O uso dos anzóis circulares também diminuiu bastante os índices de capturas de espécies indesejadas, como tubarões, raias e até tartarugas marinhas. Mesmo quando as capturas acidentais ocorrem, o posicionamento dos anzóis circulares na boca destas espécies aumentou a taxa de sobrevivência pós-soltura.
Pesquisas similares vêm sendo desenvolvidas no Brasil pelo Projeto TAMAR (Tartarugas Marinhas), cujas estatísticas demonstram as vantagens ecológicas do uso dos anzóis circulares para a frota de pescadores comerciais brasileiros. Essas pesquisas indicam que esses benefícios não têm custo adicional, porque os anzóis circulares capturam números e tamanhos similares aos anzóis convencionais.
Anzóis circulares em aço carbono
Hoje em dia, a grande maioria dos anzóis circulares (e também convencionais) utilizados na pesca esportiva e comercial é confeccionada em aço carbono. Ao contrario do aço inoxidável, o aço carbono (como o nome sugere) apresenta alto teor de carbono em sua composição, tornando-o menos maleável e mais forte.
Contudo, o aço carbono é muito mais suscetível à oxidação, especialmente se exposto a ambientes como a água salgada.
Quem pesca no mar pode comprovar facilmente tal fato ao observar que os anzóis de aço carbono são praticamente descartáveis, oxidando rapidamente após apenas um dia de pescaria na água salgada.