Isolamento social funciona como “cota zero” e favorece peixes do Oceano

Artigo da revista científica Smithsonian indica que meses de menos movimento de barcos pesqueiros deve beneficiar os cardumes

Por Lielson Tiozzo

O período de isolamento social pode representar um respiro para os cardumes no Oceano. Com menos barcos espalhando redes e outros recursos de captura em massa, os peixes podem ter a chance de escapar da pesca comercial abusiva. É o que sugere um artigo publicado pela revista Smithsonian, ligada ao instituto que controla museus e centros de pesquisa do governo dos Estados Unidos.

Embora o período de menos movimento nos portos e a diminuição da pesca ainda seja considerado “curto”, pesquisadores acreditam que trará benefícios para os peixes do Oceano. O isolamento social funciona como uma moratória, um período de “cota zero” para todas as espécies – o que protege os cardumes. Outro ponto positivo é a possibilidade de repensar o modelo de pesca, para torná-lo mais sustentável, sem permitir a falta de pescados no mercado.

Dados e observações de satélite indicam que a atividade pesqueira caiu até 80% na China e na África Ocidental. O fechamento de diversos portos na Europa também implicou numa diminuição da pesca e no desabastecimento do mercado de peixes marinhos. O prejuízo para quem vive disso está consumado e os governos correm para promover auxílios. Mas, por outro lado, quem ganha é a natureza.

“Para as populações de peixes sitiadas do mundo – e os cientistas que tentam revivê-las – essa pausa não planejada da pesca apresenta uma oportunidade de pesquisa, que poderia demonstrar uma maneira melhor e mais sustentável de gerenciar os oceanos na era pós-COVID-19”, escreve o artigo.

Um exemplo de pausa não planejada na pesca foi o que se deu durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os sete anos de combate em várias partes do mundo fizeram com que embarcações pesqueiras fossem convertidas em aparelhos militares. Por conta disso, na Europa, o mercado de peixes teve uma redução em sua oferta que atingiu os 80%.

“Após a Guerra, porém, os pescadores colheram a recompensa como registros de capturas que excederam os anos anteriores à ela. Os peixes que capturavam eram maiores e mais velhos, um sinal de uma população saudável, mas os ganhos duraram pouco – e não apenas porque a pesca foi retomada depois que os combates pararam. A Guerra gerou tecnologias como o sonar que logo foram aplicadas à pesca e os registros de capturas cresceram ao longo das décadas seguintes”, aponta a reportagem.

O artigo pondera que não existe uma estimativa confiável do quanto o isolamento social por conta da pandemia do Covid-19 irá ajudar os cardumes. Isto porque cada país tem adotado medidas diferentes de isolamento e de restrição de atividades. Lembra também que diversos barcos pesqueiros são modernos e tem capacidade para permanecer muitos meses no Oceano ainda em atividade e conservando os peixes. Mesmo assim, entende que é um momento para ser analisado.

“Não é provável que um desligamento temporário e involuntário altere fundamentalmente o comportamento de toda uma indústria. Mas oferece um vislumbre do que poderia ser – e uma pausa de um momento para considerar o que está por vir”, sugere.



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Barcos pesqueiros encostados em uma praia da Europa; cena agora comum significa um “alívio” para os peixes do Oceano (Foto: Wikimedia Commons)