Pirarara: peixe sem frescura, mas que foge do boto

No Rio Araguaia é muito comum o boto abocanhar a pirarara fisgada e que está próxima de uma embarcação

Por Lester Scalon

Com a pirarara não tem aquela famosa desculpa, “não tá pegando porque não temos a isca tal”. Elas comem de tudo, desde piranhas vivas ou não até peixes podres. Qualquer peixe ou pedaço de peixe serve como isca. Se ela estiver no local não faz cerimônia: ataca mesmo.

É muito comum as piranhas atacarem a isca e isso acabar chamando a atenção da pirarara. Quando ela chega em nossa isca, tem dois comportamentos distintos: ou chega de mansinho “mamando” na isca ou como um bólido a toda velocidade.

Não precisa ficar ansioso para fisgar, deixe-a engolir a isca. Raramente ele a larga e quando se perde a fisgada e o pescador percebe que a isca ainda esta na linha, é só deixar quieto que logo ela volta.

O tempo médio de pescaria em cada ponto é de 15 a 20 minutos no máximo. Caso não tenha ação, mudo de local. Barrancos limpos em locais mais profundos e com velocidade de água são menos produtivos, mas costumam ter grandes pirararas, como este fantástico exemplar capturado nesta viagem. Ela abocanhou o esqueleto da metade de uma piranha.

As pirararas adoram ficar próximas das galhadas, pois é sua proteção contra o ataque de seu implacável predador, o boto. Eles perseguem as pirararas dia e noite numa luta sem tréguas, sendo muito atrevidos. Já vi partirem exemplares de 15 kg numa só dentada.

Nestas mais de três décadas que conheço o Araguaia já presenciei cenas fantásticas de ataques de botos, quando eles encantoam as pirararas nas rasuras e deflagram um ataque conjunto. Muitas vezes a água se tinge de vermelho no local do ataque.

Boto ataca uma pirarara fisgada no Rio Araguaia. Cena é bastante comum (Foto: Lester Scalon)