Mais longevo veículo de comunicação dedicado à pesca defende o pesque-e-solte e as políticas públicas de incentivo à prática
Pescar e soltar é um ato que preserva o peixe e garante o desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades.
Com o pesque-e-solte como guia de nossa linha editorial durante os mais de 25 anos de Pesca & Companhia, a revista já considerava que o aumento exponencial de praticantes de pesca poderia comprometer o estoque pesqueiro. Este futuro chegou. Em pleno Século XXI, o mundo já sabe que a pesca deixou de ser apenas um meio para garantir uma fonte de alimento.
Não há dúvida que a pesca tem uma pujante cadeia produtiva que emprega centenas de milhares de pessoas e promove inclusão social e renda nos mais longínquos rincões do Brasil. A prova disso é o evento organizado pela Pesca & Companhia há mais de uma década e que demonstra a profissionalização que a sustentabilidade exige.
Todos os anos o Pesca & Companhia Trade Show reúne a cadeia produtiva completa do segmento, que envolve os fabricantes de todos os equipamentos, do vestuário especializado e do turismo da pesca. Nada disso faria sentido sem o peixe vivo.
Preservar a vida do peixe garante a promoção de empregos e de oportunidades de negócio. O turismo da pesca é um produto valioso que deve estar na vitrine de todo local que possa promovê-lo. No Brasil, o turismo representou quase 10% do PIB em 2018 de acordo com o Ministério do Turismo.
O coordenador geral de ordenamento e desenvolvimento da pesca continental, Alex Augusto Gonçalves, citou uma estimativa: “1 kg de peixe devolvido vivo à água vale quatro vezes mais que um 1 kg de abatido”. Já o secretário de Pesca e Aquicultura, Jorge Seif Júnior indica que valeria “até mais”, próximo de dez vezes mais.
Segundo o Serviço de Parque Nacional do Departamento de Interior dos Estados Unidos, o pesque-e-solte melhora os cardumes, permitindo que mais peixes permaneçam e se reproduzam no ecossistema. Esta prática ainda oferece uma oportunidade para um número crescente de pescadores desfrutarem da pesca e capturarem peixes com sucesso.
Também vale mencionar que os peixes nativos contribuem para a reciclagem de nutrientes e ajudam a manter os processos naturais do ecossistema, quando vivem todo o seu ciclo de vida, da desova até a morte, no sistema aquático.
Exemplo que deu certo
Não restam dúvidas que a pesca tem condições de aumentar os rendimentos, atraindo não só os brasileiros, mas os milhões de estrangeiros que amam esta atividade.
Para isso é preciso de uma atitude mais enérgica, como a tomada por Goiás, que colocou a cota zero do transporte do pescado em prática.
A captura exagerada e sem critérios das espécies que habitavam as águas goianas sofriam uma forte redução na primeira década dos anos 2000 – problema que atingia níveis irreversíveis.
Com o objetivo de compensar o longo período de elevada pressão de pesca, a cota zero foi instituída e não demorou para mostrar seus efeitos.
Houve uma rápida recuperação dos estoques pesqueiros nativos, além do incremento do tamanho médio dos peixes e o fomento do turismo de pescadores esportivos.
A piraíba, um dos maiores peixes de nossas águas e que raramente era capturada durante as pescarias no Araguaia, hoje é vista com frequência, além da região despontar como o melhor destino no País para fisgar a enorme espécie.
De acordo com reportagens feitas na região, os locais vizinhos às áreas indicadas também foram beneficiados com o turismo ligado à pesca esportiva, fomentando a economia local com uma nova fonte de renda sustentável, o que resultou também na qualificação da população local diretamente ligada ao turismo.
Por isso, torna-se razoável a decisão de estados e de municípios de proibir o transporte e a comercialização do pescado para amadores. Isto também inclui políticas públicas de fiscalização rígida da atividade extrativista.