Tratamento usado em humanos com muito sucesso, agora está empregado em animais no Mato Grosso do Sul
Por Alex Koike
Um filhote de veado-catingueiro, três antas, um tamanduá-bandeira e uma cobra sucuri já receberam o tratamento que usa a pele de tilápia como curativo para queimaduras.
Com as queimadas no Pantanal, os animais são os que mais sofrem, por causa dos ferimentos. Por isso pesquisadores e veterinários se uniram para ajudá-los por meio de uma técnica brasileira inovadora.
O método foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e do Instituto de Apoio ao Queimado. As peles da tilápia, que normalmente descartadas pela indústria – são desidratadas, esterilizadas, e ficam armazenadas em temperatura ambiente
Depois, são aplicadas sobre os ferimentos, funcionando como um curativo para a região queimada e ajudando sua cicatrização.
“A pele da tilápia tem uma camada grande de colágeno, que é importante no processo de cicatrização da queimadura”, explica o biólogo Felipe Rocha, coordenador da Missão Ajuda Pantanal e pesquisador do projeto Pele de Tilápia.
Caso mais famoso
Um tamanduá-bandeira teve as quatro patas queimadas na região do Passo do Lontra (MS) e recebeu o tratamento com o couro de tilápia e a placenta de cavalos para reconstituição da pele.
O atendimento está sendo feito no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande, em parceria com um empresa especializada.
De acordo com o responsável técnico Lucas Cazati, o estado de saúde dele é grave, com queimaduras intensas nas quatro patas e um ferimento no focinho.
“A saúde desse animal é complexa, mas com o procedimento ele começa a apresentar melhoras. Estamos tentando fazer ele se alimentar sozinho”, explica.
As biomembranas foram aplicadas nas quatro patas, sendo a pele de tilápia nas patas dianteiras e a placenta do cavalo nas patas traseiras, levando em consideração as características da lesão de cada pata.
A placenta equina ajuda na cicatrização e crescimento das células da pele, além de proteger o ferimento
A técnica está sendo um sucesso porque facilita o manejo do animal em fase de recuperação, reduzindo a quantidade de sedações para que seja feita a manutenção do curativo.
As queimadas
O problema na região já dura mais de dois meses e a área destruída representa 27% do seu território consumido pelo fogo até 11 de outubro deste ano.
Desde janeiro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou mais de 17 mil focos de calor no pantanal. Os números são maiores do que todo o ano de 2019, que registrou 10.025 focos – um aumento de 74%.